Como o exercício virou meu bote salva vidas
Começou quando a gente se mudou da Granja Viana de volta para São Paulo, e eu me dei conta de que tinha passado um ano e meio sem andar na rua. Lá, a gente usava carro até pra ir na padaria. E quando voltamos pra cidade me veio essa vontade de voltar a caminhar. Quis um relógio pra contar os passos (obrigada, capitalismo, por suas falsas necessidades, rs), ganhei de presente de Natal. Coloquei uma meta: 5.000 passos diários. Só pra descobrir que tem que inventar o que fazer pra cumprir essa meta, quando se trabalha em home office. Pouco depois, pensei: e se eu começar a correr, pra atingir esses passos logo? E foi esse pequeno truque que mudou tudo.
Em março, comecei a correr na esteira. Quase não tinha fôlego. Só ia tentando correr meio minuto, depois um inteiro. Caminhava a maior parte do tempo. Estava conseguindo meus 5.000 passos. E, quando ficava difícil de chegar na meta, eu dava umas voltas dentro de casa, parecendo uma doida. Nessa mesma época, contratei um personal trainer e passei a me exercitar na academia do prédio. Pedi pra eles uns treinos de corrida. E aí fui aprendendo mais, ganhando estrutura e fôlego também. Em algumas semanas, o treino já estava ficando curto. Eu queria correr mais.
Não sei qual foi o dia exato, mas, em algum momento, eu vi que dava pé. Foi quando meu corpo entrou num fluxo de movimento diferente, quase como numa dança, numa sintonia fina entre pensamento e execução. Foi algo que durou segundos, mas que pareceu imprimir no meu cérebro uma nova possibilidade. Entendi ali que não só podia como queria correr.
Me inscrevi numa aula online de exercício só pra fazer as corridas guiadas. E aí o bicho pegou. Uma ótima playlist e a condução da professora, Carol Brasil, foram me levando mais longe. De repente eu conseguia dar os famosos tiros. Minhas pernas foram se adaptando, meu coração foi entendendo o novo estímulo.
Eis que em um dia corri cinco minutos direto. Em outro, 10 minutos. Uau! Pra quem não corria nada, até que eu estava chegando longe, né?
Prometi a mim mesma que não iria me comparar com nenhuma das centenas de pessoas que estão seguindo a trend do espírito do tempo e correndo também. Não queria saber de velocidade, de pace, de tênis. Não queria entrar na pirâmide do "tem que". Agora que tem o tênis, que tal o fone? E os óculos? E o conjuntinho?
Me inscrevi numa aula online de exercício só pra fazer as corridas guiadas. E aí o bicho pegou. Uma ótima playlist e a condução da professora, Carol Brasil, foram me levando mais longe. De repente eu conseguia dar os famosos tiros. Minhas pernas foram se adaptando, meu coração foi entendendo o novo estímulo.
Junto com adaptar o corpo, precisei adaptar também aquilo que colocava nele. Entendi que parte fundamental de estarmos em movimento é nos sentirmos confortáveis o suficiente com o que usamos. Sim, gente, chegou aquele momento em que eu quis lookinhos pra treinar. Chega de camiseta de vereador, rs. Agora eu gosto de ir bonita e confortável. Estava e estou descobrindo como vestir um corpo que, agora, descobre também tantas novas possibilidades de movimento.
Pausa para um grande momento dessa newsletter: temos o apoio de Hering em algumas edições! É legal demais quando uma marca que a gente usa e admira entende que pode se conectar com essa comunidade maravilhosa que vamos construindo aqui, né? Aproveito pra contar o que tô usando nas fotos: escolhi a Regata Esportiva Selada (a minha em tamanho G), que oferece um toque macio e elasticidade, com acabamentos selados que garantem liberdade de movimento. E o toque geladinho é perfeito para os dias quentes. Também passei a usar a Legging Sem Costura (por aqui, usei M), que se ajusta bem e passa no teste da corrida e do agachamento, garantindo zero transparência. E ela tem aquele toque macio bem gostoso, já virou das preferidas!
Comprei o livro do escritor japonês Haruki Murakami. E aí foi um apaixonamento. O cara fala de corrida e de escrita, parecendo que tá lendo meu cérebro. Fui passando avidamente pelas páginas do livro "Do que eu falo quando eu falo de corrida" avidamente, grifando trechos assim:
"Às vezes, corro rápido quando sinto vontade, mas, se aumento o ritmo, diminuo a quantidade de tempo que corro, e a ideia é deixar que a exaltação que sinto no fim de cada corrida dure até o dia seguinte. É o mesmo tipo de abordagem que creio ser necessária quando estou escrevendo um romance. Paro todo dia bem no momento em que sinto que posso escrever mais. Feito isso, o dia de trabalho seguinte transcorre surpreendentemente bem. Acho que Ernest Hemingway fazia alguma coisa parecida. Para seguir em frente, é preciso manter o ritmo. Isso é o mais importante em projetos de longo prazo."
É sobre corrida, escrita, sobre vida. Nada melhor!
A corrida me pegou pela endorfina que ela proporciona. Nunca senti nada parecido com qualquer outra atividade física. Quando corro, meu dia é melhor. Meu cérebro pensa melhor, fico mais focada, pareço até mais inteligente, rs. Resolvo tudo do dia com mais agilidade. Quando termino um treino, mesmo muito cansada, já fico esperando o próximo. Fico ansiosa pra que chegue o dia. E se esse dia é dia de corrida no parque, melhor ainda.
Percebi que tô viciada nessa endorfina. Quero ela, preciso dela. Por um ano e meio, tomei antidepressivo – e essa é toda uma outra conversa. "Desmamei" há poucos meses. Ainda fico receosa de como meu humor pode oscilar. E aí parece que a corrida me mantém num estado de bem-estar que me faz bem demais. Por isso, fico querendo sempre mais. Com todo o cuidado pra não me machucar, claro, porque não consigo nem cogitar parar.
"Ao meter o nariz em todos os tipos de lugar, conquistei as habilidades práticas de que precisava para viver. Sem esses dez duros anos não acho que eu teria escrito romances e, mesmo que tentasse, não seria capaz de fazê-lo. Não que a personalidade das pessoas mude assim tão dramaticamente. O desejo que há em mim de permanecer sozinho não mudou. Eis por que a hora e pouco que passo correndo, preservando um tempo só meu, em silêncio, é importante para me ajudar a manter o bem-estar mental. Quando estou correndo, não preciso conversar com ninguém e não tenho de escutar ninguém falando. Tudo que tenho a fazer é olhar a paisagem que passa por mim. Essa é uma parte do meu dia sem a qual não consigo viver."
Tô que nem você, Murakami.
Corri viajando! Sempre achei chiquérrima essa cena de filme. Corri bem quando estava no Recife? Não. Na verdade nunca corri tão mal. Mas segui. E acho que a graça tá aí também: cada dia é um dia, cada dia é uma oportunidade de ver como o corpo vai reagir ao estímulo. Voltei pra São Paulo e recuperei meu fôlego. Pela primeira vez, corri 5km direto, parando duas vezes rapidinho pra beber água. Foi uma alegria tão grande!
Corro para viver melhor. E essa atividade me faz pensar em várias outras coisas. Na alimentação, no sono, no álcool. Um dia bom é aquele em que janto antes das 19h e que durmo antes das 22h. Sair durante a semana e tomar um vinho? Só se for algo extremamente especial. Posso até sair, mas o álcool no meu corpo? Não quero. Compromete minha corrida. E eu tô muito encantada por ela pra deixar qualquer outra coisa roubar o holofote.
Eu, que não corria nada, agora quero me inscrever em uma prova de corrida. E me encanto por tudo o que nosso corpo é capaz de aprender. Nunca é tarde pra gente se dar essa chance na vida, né? Logo eu que a vida inteira penei pra fazer exercício…Fico viciada nos dados que o relógio mostra, que o app junta. Me vejo em movimento, mais forte do que jamais fui, mais disposta do que nos meus 20 anos. Várias vezes penso: poderia ter começado faz tempo? Poderia. Mas só a gente sabe das nossas travas, só a gente vive momentos de vida que nos distanciam de um autocuidado tão importante. Essa palavra, aliás, tão desgastada…
E assim seguimos: correndo, lendo sobre corrida, chamando a amiga pra correr no pace da fofoca, esperando o fim de semana pra correr no parque. Como é bom a gente se apaixonar por um novo momento de vida, né? Já desenho na minha mente a cena que um dia quero viver: completando minha primeira prova de corrida. A mulher disparou – o corpo e a cabeça agradecem.
Qual foi a última vez que você aprendeu a fazer algo pela primeira vez?
Essa newsletter contou com o apoio da Hering!
Parabéns pela conquista, corredora! Eu
comecei em janeiro desse ano e me faz muito bem! entendo exatamente o não fazer mais tanto sentido beber alcool durante a semana ou dormir tarde pra não prejudicar o treino dos dias seguintes! prioridades!
Talvez esse tenha sido o que faltava pra criar coragem e correr!