#11 Será que sabemos aceitar os fins?
Podem ser relacionamentos, amizades, um trabalho, um luto, algo que você fazia antes mas não consegue fazer mais; algo sempre terá um fim.
Até dia 29/01, eu estava com uma sensação estranha, não sabia bem identificar o que era. Parecia uma espécie de cansaço, ou que tudo estava indo rápido demais em um janeiro que todo mundo disse que era extremamente moroso. Mas como poderia isso?
Não sei, não sabia identificar até que…
Um gênio, que é membro de nossa comunidade, fez uns stories falando sobre como ele estava com a sensação de que o ano ainda não tinha começado, parecia que ele estava em uma parada de ônibus, onde várias linhas passavam, menos a dele. Matheus, entenda, você foi apenas luz quando fez esses stories, divo-artista-pensador! Isso era exatamente o que estava sentido.
Parece que o ano de 2023 não tinha acabado, ou que 2024 não tinha começado, parece que vivi em um limbo durante janeiro todo. E aqui não entenda limbo como um pseudo-lugar em suspensão, não, não, leia como o limbo de Dante Alighieri em "A Divina Comédia".
Assim como mencionei na minha news passada, às vezes demoro um pouco a decifrar as coisas, existe um delay, mas eventualmente, as coisas se assentam, assim como aquela fina camada de poeira que fica após uma obra e que você finalmente consegue limpar após uns dias. Então, graças a Deus e pela hóstia consagrada, dessa vez não demorou muito, um dia depois (30/01), entendi qual era o X da questão.
A verdade é que eu não quis aceitar o fim de uma realidade, o fim de uma era que foi muito próspera.
Não foi culpa do pobre ano de 2023, ou que o início de 2024 estava esquisito, ou de um mercúrio retrógrado (que eu não sei se teve kkkk mas culpar os astros sempre funciona) ou qualquer outra coisa. Não, não foi nada disso! A verdade é que algumas coisas iam acabar muito em breve e eu ainda não estava tão preparado, por mais que eu soubesse que ia acontecer mais cedo ou mais tarde. A vida te dá sinais para você começar a aceitar a realidade como ela já está se formando. Mas aí, eu, menino rebelde, quero nadar contra a maré e me forçar a voltar para algo que já não me cabe.
- "Não acabou, vai voltar! Claro que vai voltar, se estava aqui antes, vai continuar!" - pensei eu erroneamente.
Só que a maré vai te vencer, sempre! Você não vai ter forças para ir contra ela e o melhor a fazer é aceitar e só ir com ela. Mas não é fácil!
Se o fim já está posto, a grande questão é: como se readaptar?
Muito difícil essa vida de ser humano comodista do século XXI. No menor sinal de conforto, ou de que um ritmo engatou, pronto, parece que a gente entra num estado de inércia perene, como se fosse um objeto lançado do espaço, que depois da aceleração inicial, fica vagando pelo mar de escuridão só porque foi posto naquele caminho em um primeiro momento. Parece que nada vai nos tirar da rota, nada vai mudar.
Até que tudo muda.
E quando isso acontece, quando o desvio é inevitável, quando a gente é obrigado a sair do comodismo e da zona de conforto, é aí que mora o problema. Acredito que tenham fins e fins. Existem fins que são uma porrada seca, o fio da navalha bem afiada que passou na folha de papel. Pronto. Acabou. Passou. C’est fini!
E existem aqueles fins, morosos, difíceis de acreditar, do tipo:
“será que aconteceu mesmo?”,
“mas eu ainda nem senti tanto as mudanças”,
“será que elas vão chegar?”,
“E se eu me esforçar só mais um pouco, eu consigo voltar para aquela realidade. eu ainda tenho tempo!”.
Acho engraçado que por mais que algo já não aconteça mais como acontecia antes, parece que até você ter um choque de realidade, aquilo ainda persiste no nosso imaginário, quase como uma promessa ou um resquício de esperança de que aquilo vai voltar. Só que não volta!
Só que existe um grande porém neste segundo tipo de fim, ele tem uma linha tênue com o primeiro, uma hora ele vai se tornar uma porrada seca. Ou ele já se tornou e foi você que não sentiu/aceitou. Só que chegou o momento, o temido, o inevitável: você (ou eu, no caso) percebeu que o fim chegou. Como se readaptar a uma nova realidade?
Caro leitor, mais uma vez te peço compreensão kkkk Não sei se me fiz claro, mas eu notei o fim, eu previ o fim, eu falei sobre o fim, mas eu não aceitei que o fim chegaria, eu quis me iludir - claro, sou comodista, não quero que as coisas mudem - MAS, eu não fiquei tão parado, eu fiz algumas movimentações, mas ainda sem assimilar que era um FIM, foi tudo meio inconsciente.
A verdade é que se readaptar envolve enfrentar um medo: o medo do desconhecido e do que possa vir. Ainda mais se a situação não mudar pra melhor e quando existe a falta de algo ou alguém.
A vida não é linear, nem um constante progresso.
Às vezes, é um passo para frente, dois passos atrás, como já dizia o companheiro Lênin. Infelizmente, ou felizmente, nada permanece o mesmo. Algumas coisas vão se preciso readaptar, diminuir ou engrandecer, ver de uma nova forma, pensar em novos cenários.
Isso é o mais difícil: assimilar que tudo que tem um começo, tem um fim!
Em um diálogo, que aconteceu em 11 de fevereiro, com minha escritora favorita, Helizza Hilst, no qual estávamos conversando sobre o tema supracitado, devido estarmos passando por momentos similares, a diva em um dos seus momentos de maior reflexão, no clímax do seu pensamento crítico, soltou uma parábola que aqui a citarei, de forma adaptada, mas é o mesmo sentido:
"Essa situação é igual a comprar um tênis novo, por mais que ele seja muito confortável, demora a se acostumar. Só que o tênis velho também não nos serve mais, não vai dar mais pra usá-lo. E o mesmo acontece quando mudamos algo na vida, que mudamos para novos lugares, conhecemos novas pessoas e quando a gente percebe que o nosso eu mudou e não somos mais os mesmos de antes. E esse último sendo o mais difícil de se acostumar."
Ser adulto não é fácil. Tem algumas coisas que ninguém conversa sobre, como essas questões de mudanças. Todo mundo fala para a gente nunca ficar na nossa zona de conforto, mas quando você sai ou é forçado a sair, quase nunca está preparado e quase nunca tem respostas de fácil acesso.
A gente demora muito a se readaptar. E como eu falei, a questão não são os fins em si, mas é sua cabeça aceitar que aquilo terminou. Saber que você não pertence mais a algo, alguém, um lugar, uma situação ou o que quer que seja, é o mais difícil. Pior ainda é se forçar a voltar a uma situação que já não encaixa no que você tem. A vida nem sempre é um lego, no qual se você colocou uma peça errada no lugar, você vai lá e tira.
E ter calma e paciência na era da celeridade e da instantaneidade é quase impossível. Nem todas as respostas vão estar num vídeo do TikTok, ou quem sabe, de uma newsletter.
Então, caro leitor, aqui me despeço!
Sei que o início de novos ciclos tem percalços, não é uma questão de fácil ou difícil, e sim aceitar uma nova realidade e que muitas novas coisas boas podem vir desses novos caminhos.
Cada vez mais sinto que estamos todos conectados mesmo(como a física quântica ensina), porque sempre que recebo o e-mail de vocês estou passando pela mesma situação e como é bom saber que não estou só.
Parece que quanto mais a gente se apega a uma situação/alguém mais o universo faz a gente lembrar que nada é para sempre, então sigamos abertos ao novo sempre!
Ps: Só vim saber através do seu texto que o famoso "zé fini" que a gente usa pra quando algo acabou, vem da expressão em francês que você usou "C’est fini" adorei haha
Leo,
Estou a pouquíssimo tempo enfrentando um término de relacionamento difícil (o qual aconteceu contra minha vontade - mas a favor da maré, como disse você). Seu texto vem em um momento importante. Acredito que, o que há de mais profundo nele e que ressoa em mim são dois momentos:
1) Não vamos conseguir conter o fluxo ao qual estamos sujeitos, embora nossos esforços sejam opostos à direção que ele impõe. Isso é muito difícil para mim. Talvez pela depressão, talvez pela teimosia, sou o tipo de cão que não larga o osso com facilidade, mesmo que eu saiba (racionalmente) que é o melhor a se fazer. Para mim, é difícil demais pensar que as coisas têm o devir que devem ter.
2) Na "era da celeridade", como viver processos assim? Estou exausto. Ter que viver esses percalços, tão profundos e que arrancam pedaços em nós e, mesmo assim, ter que acordar e ir viver a vida da produtividade, como se nada estivesse acontecendo, talvez seja o que há de pior. Não temos tanto tempo quanto merecemos ter para atravessar nossas tragédias.
Definitavamente, não tenho respostas, assim como você não as tem. Apesar disso, sou muito grato por poder compartilhar desse processo. Você me abraçou com suas palavras.
Sinta-se abraçado também por mim.