O que te faz ficar um pouco mais offline?
Buscando por padrões em mim, encontrei um:
Quando estou completamente triste,
quando estou completamente feliz
E fiquei pensando: o que conecta esses dois pontos? Além do que é óbvio, da força dos sentimentos, das polaridades do sentir, encontrei um elo.
Quando estou completamente triste ou completamente feliz, eu deixo de lado a minha persona.
Persona é algo que, desde que a internet passou a se importar com quem a gente era por dentro, começamos a criar uma. Por vezes com muita estratégia, outras sem a menor noção do que estávamos fazendo isso. Não convém sair nu em praça pública, afinal. Na internet é a mesma coisa. A persona é como se fosse a roupa que a gente veste na internet, pra se proteger.
Uma persona também é tudo o que nos coloca em caixinhas pra facilitar a compreensão do outro. A pensadora ácida, o jardineiro feliz, a moça saudável, o grande leitor e tudo mais que vamos colando na nossa persona digital cada vez que decidimos falar “ei, eu gosto ou desgosto disso aqui”.
Eu sempre tive uma única preocupação quando o assunto era persona: que a minha fosse o mais próxima da realidade o possível. Me dava pânico a ideia de alguém me conhecer no offline e me achar muito diferente do que eu projetava ali. Me tranquilizava enormemente quando ouvia que eu era mesmo aquilo que eu colocava nas redes.
Mas a verdade é que, por mais que a gente se esforce, a internet não dá conta. Primeiro porque o que expomos são recortes de momentos conectados ao tempo e a um contexto. Você naquele mês pode estar de um jeito e, em outro, completamente diferente. Segundo porque a audiência está te vendo junto a outras milhares de outras pessoas e, salvo algumas exceções, ninguém está prestando tanta atenção assim em você, ou em mim.
Dito isso, estou bem offline nos últimos tempos.
Porque estou completamente feliz.
Peguei uma paixão fortíssima que, ao passo que pintou o mundo, despiu minha persona. Estar na internet de 2024 sem a minha roupinha parece algo perigoso demais de se fazer (mas, na intimidade de uma newsletter, senti que podia).
Então sentei aqui, antes mesmo de decidir se este texto verá ou não a luz do dia, para escrever sem filtros um pouquinho pelo puro exercício de vez ou outra fazer isso na vida. E tem começado a me interessar poder estar na internet – e no mundo – a partir dessa perspectiva.
Se eu for pensar bem, tudo que me emociona, todo trabalho que sinto que importa, todo texto que me faz de fato parar para ler tem um tanto desse ingrediente mágico: a verdade.
Sem persona, o nosso filtro do que vale ou não ser consumido fica apuradíssimo. Quando me sinto assim eu não quero só ver o seu trabalho, a sua roupa, a sua comida, a sua viagem, eu quero ver você. O que tem te feito sorrir, chorar, sentir raiva, vibrar? Tenho um interesse especial em particular: o que tem te feito se sentir parte do mundo, o que tem te conectado com as outras pessoas, em vez de afastar?
Para mim, o amor.
A gente fala do quanto a internet nos distrai de nós mesmos, o quanto podemos passar horas aqui todos os dias sem dar minutos de atenção aos sentimentos que estão se passando dentro da gente. É verdade, meu deus, e eu sei. Mas a distração não é a vilã.
Dia desses, na fila do supermercado, enquanto conversava com meu namorado, nos demos conta de tamanha distração. A fila andou, e a gente não. A atendente abriu o mais lindo sorriso e soltou: “Tem distração que é boa de ter”. E fez poesia ali no meio do dia, nos conectou imediatamente a ela e ao mundo e até mesmo à internet. Lembrei também como tenho usado a palavra distração sempre no pejorativo. E sobre como a internet e a minha relação com vocês aí do outro lado da tela também me ajuda tanto a me conhecer.
“Distraídos venceremos.”
Paulo Leminski
Foi assim que senti vontade de sair do meu pequeno hiato offline para vir aqui pensar sobre tudo isso enquanto escrevo para vocês.
Algum sentimento te faz ficar mais offline?
Você já tinha pensado sobre a sua persona online?
E já sentiu que podia ser você mesmo, sem ressalvas, na internet e na vida?
Eu vou amar ler cada experiência de vocês, aqui nos comentários.
Que delícia esse texto! Me emocionei até, porque estou num momento muito parecido. Estou bem off nas poucas redes sociais que uso, mas sinto que estou muito mais presente e conectada com as pessoas que gosto! E me sinto também mais feliz, porque estou criando coragem e tempo para fazer outras coisas que me interessam/despertam curiosidade, e antes não fazia. Muito boa tbm a reflexão sobre a persona online - não tinha parado pra pensar tanto sobre isso, mas faz muito sentido. Ótimas reflexões pra começar a semana <3 Obrigada pelo texto!
Essa newsletter é delicinha demais de ler. Eu sinto um quentinho quando ela chega na minha caixa e essa foi especialmente delícia porque tem amor nela. Que coisa mais linda! O amor também me faz ficar mais offline e tenho percebido que a raiva também. Prefiro me resguardar pra não bater boca na internet ou incorrer no risco de ofender as pessoas. Engraçado como são os opostos que nos regem....enfim. Obrigada por essa partilha e possibilidade de reflexão!