#42 Uma conversa para ansiosos-analíticos-esperançosos
Se você tivesse acesso ao meu histórico no desktop nos últimos meses, encontraria um mix de pesquisas um tanto monotemáticas: “quais cenários para 2026?”, “eleições 2026”, “como o cenário americano influencia o Brasil?” — junto com: “como recuperar a capacidade de sonhar?”, “exercícios de utopia”, “política de regeneração” e por aí vai…
O gatilho não é dos melhores, mas faço parte de um tipo de gente que gentilmente apelidei de ansiosos-analíticos-esperançosos. Isso significa que, sim, estou meio maluca e ansiosa, mas também quero analisar com calma os cenários e, mais do que isso, quero ser capaz de esperançar diante do apocalipse. Faz sentido? Se você achou que essa definição conversou com você ou se nossos históricos se parecem, vem comigo nesse raciocínio.

Quando, na Contente, nos entendemos como veículo, ganhamos também uma camada adicional de desafio. Veja bem, as pessoas (e aqui estou sendo bem generalista) odeiam ler notícias. Saber o que acontece no mundo nos angustia e nos faz sentir impotentes. Dados? Obrigada, mas prefiro ficar com a minha experiência pessoal e seguir em frente. Como conversar com quem está cansado demais para qualquer conversa?
Mais do que noticiar (já que não trabalhamos com hard news), mais do que entrevistar (já que trazemos muitas pesquisas próprias e autorais) e mais do que apontar que o mundo está acabando e provar isso com estatísticas (já que somos sonhadoras seriais), tivemos que encontrar uma nova maneira de fazer comunicação, de fazer jornalismo.
Pessoalmente, sou alguém que tem estudado obsessivamente data science e jornalismo de dados nos últimos três anos. Mas isso de nada serviria sem o que apelidei de data-povo ou fofoca-listening. Nada mais é do que a capacidade de se localizar no espaço-tempo do seu país, da sua classe, das demandas mais urgentes — em meio a uma internet que tenta te convencer de que qualquer microtrend é assunto do IBGE.
Isso porque a maior habilidade de um jornalista ainda é saber ouvir, e o maior diferencial de um veículo ainda é traduzir as demandas do seu povo. E, claro, você pode discordar disso. Afinal, quantos veículos tradicionais ainda mantêm esse compromisso? Quantos Instagrams legais, jovens e cool parecem ter suas linhas editoriais voltadas apenas para 10% da população do Brasil?
Não podemos esquecer que foi desse romance bizarro entre um jornalismo que parou de se importar e uma comunicação pop mas feita para iguais que o absurdo cresceu. Hoje, as correntes de Zap importam mais do que pesquisas e figuras políticas grotescas (eu não preciso citar nenhuma, você pensou nas mesmas que eu) ganharam força. Para o mal ou para o bem, elas falam com o povo.
Anos atrás, Mano Brown nos mandava voltar para a base. Atualizando o conselho, se o mestre me permite, eu adicionaria: volte para a base e, no meio do caminho, ensine o povo a reaprender a sonhar. Porque sonhar, mesmo com os pés ancorados nos dados, no factual, no possível, é a única coisa que compete com a barbárie.
2025 será o ano de sonharmos coletivamente com futuros — no plural — aqui na Contente, provando que é possível fazer isso lidando com a realidade, somos analíticas, claro. Estou ansiosa por essa nova fase e doida para que vocês compartilhem dessa ansiedade positiva também. Vamos juntos, ao lado e na linha de frente, como veículos de sonhos?
Até!
Existe uma verdade na Bíblia que creio fazer sentido nesses tempos:
“Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida. Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento. Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa; homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos.”
Tiago 1:5-8 ARA
Que não duvidemos… que tenhamos uma Fé inabalável.
"O absurdo nasceu do romance estranho entre um jornalismo que parou de se importar e uma comunicação pop feita para agradar iguais." O resultado? Pequenas células de desconexão que criaram uma pirâmide descontrolada. Hoje, verdades absolutas (que nem sabemos de onde vêm) alimentam uma coragem cega e uma assustadora falta de bom senso e caráter.
Parabéns pelo texto, Yllana!