#64 Vamos tornar a ostentação cafona novamente?
O que pode ser mais defasado do que a glorificação da prosperidade material?
E, de repente, o impensável aconteceu. Era pandemia e vivíamos uma crise em escala global. Quem se lembra do “estamos todos no mesmo barco"? Uma ideia romântica que se espalhou na internet, mas rapidamente foi rebatida. Logo, a própria internet começou a perceber que não era bem assim. O fundo da casa da celebridade era bem diferente do fundo da sua. E não precisaríamos nem ir muito longe: o fundo da casa do seu chefe também. Aí a frase se adaptou para algo como:
Não estamos no mesmo barco. Quando muito estamos no mesmo mar. Alguns, estão de iates, uns de jangada e outros lutando agarrados em pedaços de troncos.
Ficou feio mostrar “estilo de vida”. O tempo pedia outros temas. Na Contente, a tradução desse espírito do tempo fez nascer publicações como:
Alguns anos depois essas ideias parecem tão distantes… Até mais do que a própria pandemia. Porque agora a ostentação também se turbinou: é das mais fortes armas políticas e vem até com um selo premium, “a aprovação de Deus”. Pautas que também temos abordado.
Mesmo em um momento em que isso parece impossível, abro aqui o sonho e o desejo de um novo e coletivo movimento: que possamos contar novas narrativas sobre prosperidade.
Para isso, precisamos encarar conversas difíceis sobre dinheiro, desigualdade social, os verdadeiros impactos dos nossos hábitos e desejos como sociedade no meio ambiente.
Porque a glorificação da riqueza material, infelizmente, não está só no perfil da celebridade. Ela é parte intrínseca do imaginário de felicidade da maioria de nós. Eu assumo que é do meu. Uma incessante busca pelo prazer e pelo dinheiro e pela fuga do silêncio e da pausa.
Mas eu já aprendi que uma ambição como essa não poderá, sozinha, levar a um bem-estar individual ou coletivo. Pelo contrário: quanto mais buscamos apenas o prazer e fugimos da dor, maior a chance de levarmos uma vida rasa, sem propósito e desconectada dos outros.
E a armadilha está posta: a prosperidade para a nossa sociedade é a que mira na felicidade e acerta no excesso, na posse de muito mais do que uma só pessoa precisaria para viver com conforto e dignidade. Há quem acredite que esse é um “pensamento baseado na escassez”, mas a terra não mente.
Essa constante busca pelo prazer e pela fuga do sofrimento muitas vezes nos direciona a becos sem saída para o bem-estar como o egoísmo, o materialismo, a objetificação sexual, a injustiça social, a destrutividade ecológica... Tudo isso em nome da "felicidade".
Felicidade é ter boas relações.
Felicidade é fazer parte de uma comunidade.
Felicidade é tratar a todos os seres com dignidade.
Felicidade é ter a possibilidade de descansar.
Felicidade é saber que não há ninguém passando fome.
Felicidade é justiça social.
Felicidade é equidade.
Felicidade é floresta viva.
Na pandemia ostentar se tornou cafona pois estávamos vivendo uma crise em escala global. Mas… Quando é que não estamos? Vamos tornar a ostentação cafona novamente? Quero saber o que acham dessa ideia.
vamos!
Gostei da ideia!