Como a gente se encontra importa
Estou em um momento da vida em que nada parece mais precioso do que as minhas conexões verdadeiras, principalmente as amizades. E, ao mesmo tempo, também me vejo em uma incessante busca por mais sentido em tudo o que eu faço. Depois da maternidade o tempo fica mais escasso e cada escolha de como usá-lo tem um pouco mais de peso. Pais e mães que me lêem: é ou não é assim?
Feita essa intro, tenho pensado cada vez mais no porquê de tudo. E existe algo que quero tirar do automático: o porquê nos encontramos.
Quem ajudou a despertar essa faísca dentro de mim foi um livro da Priya Parker, facilitadora, consultora estratégica e escritora, que se chama “A arte dos encontros: como se reunir e a importância de estar perto dos outros”. Nele, a autora nos ajuda a enxergar que, quando o assunto são encontros, a gente sempre acaba pensando neles de forma meio parecida e automática. Aniversários, casamentos, chás de bebê, jantares de amigos, festinhas, viagens. Se você pensar, tudo tem mais ou menos a mesma estrutura. Mas o que será que poderia acontecer se pensássemos com mais intenção no que estamos precisando uns dos outros em cada ocasião? Será que não criaríamos milhões de rituais diferentes?
O que alguém pode precisar de um aniversário?
Talvez um pouco de força de quem mais se ama depois de um ano difícil.
O que uma dupla pode desejar em um casamento?
Proporcionar uma expansão de famílias, desde a de sangue até a escolhida.
O que futuros pais e mães podem precisar de um chá de bebê?
Receber conselhos para verdadeiramente cuidar de uma criança de forma mais equilibrada.
O que alguém pode precisar em um jantar de amigos?
A sensação de começar a criar raízes em um novo bairro ou cidade.
O que alguém pode precisar em uma festinha?
Conhecer pessoas novas sem ser em uma rede social.
Esses são apenas alguns exemplos que mostram que, quando nossos encontros têm de fato um objetivo, tudo pode ficar mais claro – e mais interessante.
Eu tenho uma história para compartilhar de um encontro que planejei com intenção. Esse ano aconteceu um feito incrível em minha vida: uma viagem de mais de 10 dias com as minhas melhores amigas, para um destino internacional. Oito mulheres que conseguiram reservar um tempo para elas mesmas longe de trabalho, comunidade, família e filhos, guardar o dinheiro necessário para fazer isso e dizer não para um monte de outras coisas para que a viagem acontecesse. Quando a ficha de que conseguimos movimentar tudo isso caiu pra mim eu sabia que estava diante de uma relação de amizade muito especial. Além de nos amarmos muito, ficou claro que nós também tínhamos um grande compromisso com nós mesmas, que atravessa outras grandes áreas da vida – especialmente família e trabalho – que sabemos que comem as fatias mais generosas de tempo das nossas vidas. Mas naquele momento não: nosso compromisso maior foi com a nossa amizade.
Pois, então, no dia que essa ficha caiu eu entrei no meu carro, dirigi para o shopping mais próximo e entrei em uma joalheria. “Olá, tudo bem? Eu queria ver alguns modelos de anéis. Preciso de oito que sejam iguais, por favor :-)”. Conversa vai, conversa vem, contei que estava comprando aqueles anéis para presentear cada uma das minhas sete amigas – e eu mesma, que não sou boba – com um anel. Historicamente, as mulheres esperam ganhar um anel de um homem, como um convite para um compromisso mais firme. Nada contra esse ritual do qual já participei, mas pensei que, dessa vez, eu poderia criar algo novo. Criar o ritual de, em vez de pedir, só agradecer o compromisso que ganhei dessas mulheres, mesmo sem ter pedido nada em troca. As vendedoras da loja me cercaram com os queixos em suas mãos como se estivessem ouvindo uma história de amor de conto de fadas. E estavam. O ano era 2023.
Corta pra viagem e lá fui eu embarcando com minhas oito caixinhas de anéis e oito cartas de amor dentro da mala, enroladas em uma canga, pra ninguém perceber a surpresa antes da hora porque mala de amiga é de domínio público. O primeiro dia da viagem durou 147 horas e, quando já estávamos há mais de 20 horas sem dormir, todas de pijama e cabelo pra cima no meio da madrugada na cozinha da casa, conversando desesperadas até parecer perder o ar, pensei: é agora. Lá fui eu com um frio na barriga danado, nervosa mesmo, pegar minhas caixinhas. Afinal, o movimento de criar um encontro com intenção requer coragem. “Quem sou eu pra pensar em algo assim?” Mas agora era tarde, eu sou eu e bora. Apareço com as caixinhas e quando chego recebo olhares perplexos, as boquinhas caíram mesmo.”QUÊ que tá rolando?” Os olhares gritavam. A medida que uma delas lia em voz alta a carta que eu não conseguiria ler, alguns rostinhos foram mudando para carinhas de choro, essa aqui 🥺, sabe? De outras, o queixo nunca mais subiu. Carta lida, caixas abertas e lágrimas despejadas, começou uma sessão de abraços que alcançou tantas configurações, era abraço de uma em uma, abraço duplo, abraço triplo e por aí vai que em seguida caímos na maior crise de riso pois a cena parecia “a paz de Cristo” em uma igreja e a trilha perfeita seria “My Sweet Lord” do George Harrison. É isso, foi espiritual.
Nossos encontros podem ser mais intencionais. E talvez isso nos ajude a sair da recessão da amizade, como diz que estamos vivendo esse vídeo que compila dados devastadores compartilhado pela Ylanna Pires, redatora maravilhosa aqui da Contente.
A forma como a gente se encontra importa. Vamos fazer valer?
Luiza, estou eu aqui com os olhos marejados, no intervalo do trabalho, ouvindo o som da britadeira destruindo o chão da sala vizinha e com a certeza de que esse texto transformou a minha semana. Os textos dessa news são preciosos demais ❤️
Babadoooooo esse texto! Que amor querida!! O quanto a gente pode viver conexões mais fortes mesmo a partir desse olhar das intencoes? 💜